FIM DO MUNDO PARA QUEM?

            Uma das coisas que mais marcaram no início desta década foi, sem sombra de dúvidas, o enigma a respeito do calendário Maia, que apontava o “fim dos tempos” no dia 21/12/2012. Muita gente ficou inquieta e preocupada com a ideia de um fim do mundo neste ano, mas ao passarmos da tão falada data, os Maias viraram motivo de zombaria por parte de muitos, por “errarem” a previsão do “apocalipse”. Uma coisa que eu gostaria de esclarecer ao leitor é este enigma sobre o calendário dos Maias.
            Antes de falarmos em fim do mundo (ou fim dos tempos), precisamos nos atentar quanto à visão de mundo do povo que criou o calendário: Os Maias. Eles, como vários outros povos da América, tais como os olmecas e os mexicas, não tinham uma noção escatológica da história. Para eles, a história nunca teria um fim, pois a cada final de um ciclo, outro teria início até chegar ao fim e ceder lugar a um outro e assim por diante.
            Pois bem, o famoso calendário foi criado seguindo esta lógica cíclica da história. Os Maias calcularam um ciclo que teria um final na data de 21/12/2012 (para o calendário gregoriano). A partir da entrada do sol em capricórnio no presente ano, isto é, 22/12, uma nova era se inicia e teremos um novo ciclo pela frente, com lentas e graduais mudanças físicas, geológicas, sociais e espirituais. Foi isto que este povo previu. Mas e quanto ao fim do mundo? Bem esta pergunta é facilmente respondida e esta concepção, desmistificada.
            Esta noção de uma história apocalíptica, escatológica é proveniente da cultura judaico-cristã. Após a ocupação dos europeus ao continente americano (século XV), vários elementos místicos da cultura dos povos ameríndios passaram a ser interpretados sob a óptica religiosa dos conquistadores. Logo, o calendário Maia passou a ter uma visão escatológica, e não mais cíclica, até os tempos atuais.
Com a chegada da tão falada data, os maias passaram a ser ridicularizados por terem “errado” a previsão do fim do mundo. Mas eles jamais falaram em fim do mundo, visto que não possuíam esta noção da história. Ao contrário, eles acertaram com precisão o final de um ciclo.
            Contudo, esta mística apocalíptica é fruto da nossa ignorância, aliada à ideia apocalíptica que aprendemos a ter de berço na nossa cultura judaico-cristã. Antes de tentarmos ridicularizar povos mais antigos pela sua produção cultural, devemos, antes, procurar estudar sobre quem eles eram realmente, o que pensavam, no que acreditavam e como explicavam os acontecimentos históricos. O fim do mundo não cabe a um pensamento cíclico, como o dos Maias. E no final das contas a verdadeira piada é a tentativa deprimente de tentar, mais uma vez, “cristianizar” uma cultura epistemologicamente distinta dos padrões judaico-cristãos.

Sua vida é feita de escolhas, boas ou más, suas ou alheias, foram elas que decidiram todo o rumo que a história tomou, como sua vida, e o universo serão futuramente. Escolhas feitas por outras pessoas podem influenciar sua vida? Podem ser influenciadas por você? Até que ponto... E quando o assunto são suas próprias escolhas, até que ponto elas têm o poder de mudar o universo a sua volta?
Quanto mais escolha nós temos, melhor é a nossa vida? Vamos refletir um pouco sobre isso. Pense em uma pessoa, ela chega em uma loja e quer comprar calça jeans, mas há apenas um modelo que é feio e apertado, no final a pessoa compra a calça e volta conformada pra casa, afinal era a única que tinha. No outro lado do mundo, uma pessoa entra em uma loja e vê dezenas de modelos de calça jeans, um melhor que o outro, ela prova, prova e não sabe qual vai levar de tão bom que eles todos são, mas acaba por levar um para casa. Mas há um problema, por ter tido várias escolhas, ele se sente na obrigação de encontrar a calça perfeita, e como todos nós sabemos, não existe tal coisa como a calça jeans perfeita, então, mesmo que a calça seja boa, a pessoa sempre irá se culpar, pois na cabeça dela poderia ter escolhido uma melhor.
Outra observação acerca das escolhas que devemos fazer, é o fato de elas nos deixarem confusos, sim, escolhas podem fazer você ficar mais confuso. Um estudo foi feito nos Estados Unidos sobre planos de aposentadoria voluntária, e para cada dez planos diferentes que eram oferecidos, a taxa de participação caía 2%. Oferecidos 50 planos, 10% menos empregados participaram do que se tivesse apenas cinco, por quê? Por que com 50 planos diferentes para se escolher, é tão difícil escolher ‘o plano certo’, que você acaba adiando para amanhã, e amanhã e amanhã...
Esses dois fenômenos ocorrem por um único motivo: As pessoas não sabem lidar com as escolhas! Quanto mais escolhas as pessoas têm, mais paralizadas elas tendem a ficar, mas isso não é culpa das escolhas em si, não é essa a natureza das escolhas. Isso tem a ver com o modo que lidamos com as escolhas que estão na nossa frente.
Com várias escolhas, você não vive inteiramente o presente, você está em um local mas pensa sobre todas as características boas que outro local oferece, você assiste um filme pensando que poderia estar vendo outro naquele exato momento, e por causa disso, a experiência do local ou do filme que você está assistindo no momento, fica pior, você não a aproveitou completamente... E isso vai ocorrendo dia após dia na vida das pessoas, sempre há um ‘mas e se fosse assim’... É assim que nossa cabeça funciona, nunca no aqui, nunca no agora, sempre há ou houve um local mais digno de atenção.
Como então podemos agir de modo diferente frente às escolhas? Começe por parar de pensar “teria sido melhor se eu fizesse do outro jeito”, mesmo que talvez fosse melhor do outro jeito, você não vai conseguir voltar no tempo, vai? Então aprenda com seus erros e viva daqui em diante, o que aconteceu, aconteceu, tire o melhor proveito possível disso.
Para tomarmos escolhas melhores, é sempre importante conhecer a situação, se a escolha envolve viajar, conheça os prós e os contras de cada lugar, seja imparcial, se no momento você se encontra dominado pelas emoções, espere sua cabeça esfriar, se teve um dia difícil, dê uma respirada antes de tomar qualquer escolha importante que você tenha que tomar.
Finalmente o assunto mais importante do dia, meça suas consequências, por exemplo, se uma pessoa te agrediu verbalmente, você pode sentir uma vontade enorme de espalhar mentiras sobre ela ou de se vingar, você acha que as consequências serão boas dessa forma? Você pode atingir ela, mas vai se passar por mentiroso e vai acabar se prejudicando também, ou você pode simplesmente se afastar dela, continuar sua vida tranquilamente sem se preocupar com ela.
Todas as escolhas têm consequências, você é o produto de suas escolhas e de escolhas de outras pessoas feitas no passado, e será o produto das escolhas que estão sendo feitas no presente. Como você quer o seu futuro?



Não é incomum no “magismo” moderno o uso alienado de objetos mágicos durante a vida cotidiana e/ou em rituais.
Poucos realmente se perguntam se tais objetos são de fato necessários, suficientes, funcionais e de que modo funcionam. Meu objetivo neste texto não é ofender os doutrinados e muito menos ridicularizar crenças, mas talvez, trazer ao entendimento coisas simples e importantes, que são injustamente ignoradas.
De que modo ou modos, por exemplo, uma das ferramentas mais usadas na magia pagã de rua, o pingente de pentagrama, influencia verdadeiramente nas causas e efeitos rituais? De que modo uma varinha, um símbolo desenhado na mão, um incenso ou uma vela causam qualquer efeito sobre o funcionamento mágico? Eis perguntas difíceis que buscarei responder tentando não incorrer em erro.
Essas perguntas são praticamente irrespondíveis sem a resposta de uma pergunta ainda mais urgente. Em que consiste a magia?
Um ato de fé, dirá alguns, mas afirmar que a magia é um ato de fé significa afirmar o quê exatamente? A fé, conceitualmente falando, é tão simplesmente a crença em determinada coisa que não lhe apresenta dados mínimos de evidência.
Ser um mago então, seria puerilmente crer na realização de uma atividade qualquer, cuja a possibilidade e modo de realização não pode ser conhecida? Ora, isso faria da maior parte da população maga! Esse pobre ensaio, ou qualquer texto sobre tais assuntos perderiam todo sentido de serem lidos, uma vez que a magia consiste em um ato de fé, bastaria querer que algo se realize e esperar acontecer, fazendo dos deuses e símbolos meros ornamentos.
Uma vez que a magia não é um ato de fé simplesmente, o que seria então? Uma ciência¹ ou um exercício?
Vejamos o que dirá os autores clássicos.
“ A magia era o exercício de propriedades psíquicas adquiridas nos diversos níveis de iniciação. O desenvolvimento da vontade é o fim que todo homem deve ter em mente, se deseja comandar as forças da natureza.” (Papus, p 104)
“ A diferença entre um mago e um feiticeiro está em que o primeiro sabe o que faz e prevê os resultados do que realiza, enquanto o segundo não tem o menor controle sobre sua atividade.” (Papus, p 105 e 106)
“Não é o poder que falta, é à vontade. (Mo-Tsé)” (Papus, p 106)
“ As relações entre o visível e o invisível chegaram a seu limite. Daí o método empregado visando a fixar a vontade nas operações mágicas. Um adepto não pode produzir um efeito em oposição à natureza, um milagre, simplesmente porque isso não existe.” (Papus, p 107)
“ Não há milagres. Tudo o que acontece é o resultado da lei eterna, imutável, sempre ativa. (Madama Blavatsky)” (Papus, p 107)
“A magia considerada como ciência é o conhecimento desses princípios... (Madama Blavatsky)” (Papus, p 108)
“ A pedra angular da magia é um conhecimento prático e aprofundado do magnetismo e da eletricidade, de sua qualidade, de sua correlação e de sua potencialidade. (Madama Blavatsky)” (Papus, p 110)
“ Resumindo, a magia é a sabedoria espiritual, a natureza é aliada espiritual, a pupila e a servidora do mago. ( Madama Blavatsky)” (Papus, p 110)
“ Deixai que os loucos ajam. Sem fim e sem causa, deveis, no presente, contemplar o futuro. (Fabre d’Olivete)” (Papus, p 115)
Com todas essas citações clássicas, digo que a magia é a ciência que estuda a natureza (em todas as suas manifestações) e que aplica seu conhecimento no exercício da vontade. Logo a magia não é fé, pois como já foi dito fé é à vontade sobre a esperança no desconhecido, e a magia enquanto ciência e prática difere muito disso.
Apesar de todos os princípios intransponíveis serem necessários para produção mágica, existe um em especial que se trazido ao entendimento pode clarear muitas dúvidas e/ou desvelar o que muitos ignoram.
O Principio de correspondência (O Caibalion, p 6), embora não seja suficiente, é necessário para o exercício mágico. Tal principio consiste tão simplesmente em entender as infinitas ligações entre os mundo das coisas sensíveis e os mundos das coisas suprassensíveis.
Essa ligação é meramente entre objeto material e objeto ideal, objeto material e objeto sentimental (que pode ser ideal) e objeto material e objeto imaginário e o objeto imaginário a todos os outros já citados.
O objeto material é todo o objeto que temos ao alcance dos sentidos, como facas, pingentes, velas e etc, esses são dotados de matéria e quase sempre de uma imagem e forma.
O objeto ideal é todo o objeto que não existe ao alcance dos sentidos, e muito menos possuem matéria e forma, não podem ser sentidos mentalmente, mas podem ser conceituados. Como a ideia de justiça, sabedoria, beleza e etc.
O objeto sentimental é todo o objeto que não possui matéria e forma, não existe ao alcance dos sentidos, podem ser conceituados e sentidos pelo espírito². Como por exemplo, o amor, ódio, alegria, tristeza etc.
O objeto imaginativo, dos quais muitos estão familiarizados, são simplesmente nossas criações do espírito, isentos de matéria, mas dotado de forma. Como é o caso do centauro, das memórias imagéticas, deuses etc.
Uma vez entendido a explicação acima, vejamos seu funcionamento a partir de exemplos.
Ligação de objeto material e objeto ideal: Em um ritual quando usamos uma pena de pavão para representar a ideia de beleza, uma vez que essa ideia não possui imagens, usa-se imagens de representação para evocar a ideia.
Ligação de objeto material e objeto sentimental: Em um ritual em que o magista não é capacitado para gerar sentimentos artificiais, usa o símbolo do coração, por exemplo, para representar e evocar a ideia de amor e daí o sentimento, uma vez que o amor em si não possui imagem.
Ligação de objeto material e objeto imaginário: como quando imaginamos um ser ou um símbolo e lhe damos corpo físico, como alguém que cria um selo mentalmente e o desenha no papel, o objeto imaginário liga-se a todos os outros objetos, pois sempre se liga a Idea e às vezes a sentimentos.
Muitas dessas representações são arbitrárias e não de fato, mesmo assim seu efeito é existente, como por exemplo, a pomba, que de fato nada tem haver com a paz.
Os deuses são representações ricas em símbolos para representar o que não possui forma, daí temos o deus do amor, da justiça, guerra, beleza e etc. Esses são em sua maioria representação de ideias necessárias para o funcionamento da vontade.
Para entender melhor o porquê essa ligação ocorre, vejamos o que dizem os clássicos:
“ O método principal da ciência oculta é a analogia. Pela analogia determinamos as relações existentes entre os fenômenos.” (Papus 44)
“ veremos, por exemplo, por que, para comandar os espíritos do ar é necessário uma pena de águia (Eliphas Levi, Rituel de haute megie) segundo as relações analógicas existentes entre o elemento e a ave. Tudo isso consiste num método para fixar a vontade.” (Papus 113)
Mas uma pergunta eu faço, um mago cujo espírito é capaz de abstrair imagens e formas com facilidade, não ficaria independente de objetos materiais em sua maioria? Os rituais não seriam então substituídos por meras abstrações de ideias? Os deuses e suas formas não perderiam o sentido? Bastando então à vontade e o conhecimento de sua aplicação? Seriam os deuses e símbolos meros ornamentos deixados pelos mais avançados para facilitar a ação dos espíritos mais jovens na magia?
Tais perguntas são assaz difíceis, e prefiro não responder neste artigo.

Lord Vincus
2012
“Praebere sitientibus”


Notas:
(1)Ciência: Saber, conhecimento.
(2)Espírito: Mente, eu interior, corpo intelectivo.

Referências Bibliográficas:
O Caibalion, Os três iniciados. Texto virtual pdf. s/d.
Tratado de ciências ocultas, PAPUS. Editora três. 1973.

A magia pessoal é um recurso formidável que está disponível a, praticamente, qualquer pessoa, podemos usá-la para manipular as situações a nosso favor. Mas existem aquelas situações mais... complexas... que usar a energia que dispomos para conseguir alterar essa situação pode ser perigoso para o magicista ou, na melhor das hipóteses, não surtir efeito algum... nesses momentos, podemos fazer duas coisas: Chorar e ficar torcendo para que o Universo sozinho resolva tudo, fazendo um “milagre” em sua vida ou, podemos ainda, apelar para algum tipo de Arte Oculta que possa se mostrar mais poderosa que a magia pessoal...
Nobres amigos, existe uma Arte Oculta muito antiga que eu, particularmente, aprecio muito, mas que é extremamente perigosa e não sugiro que seja praticada por iniciantes.
O espírito é energia pura, uma vez que não está conectado nem obrigado a manter um corpo físico, esse espírito pode manifestar seus poderes com liberdade e nível de energia muito superiores aos que nós, encarnados, podemos utilzar. Com base nisso, nossos ancestrais buscaram maneiras de interagir com os espíritos desencarnados para manipular através deles, nascendo assim a famigerada Necromancia.
Existem diversas formas de Necromancia, sendo que hoje irei me deter em dois tipos particulares, a Necromancia Voodoo e uma de suas derivações, a Necromancia Candomblecista.
Começando com a Necromancia Candomblecista, encontramos nesta o uso mais difundido de Necromancia dentro do Brasil, onde as pessoas recorrem às Artes para finalidades já tradicionais dentre o público dessa magia, em se tratando de Brasil, como fazer separações, matar alguém ou, o mais comum, “trazer o seu amor de volta”. A Yalorixá ou Babalorixá possuem rituais de “assentar” as entidades, de maneira que elas os sirvam por tempo indeterminado, podendo inclusive ser herdadas por outros membros da família. Não sei se seria interessante discutir sobre o rito de assentamento, deixo para o futuro, caso me seja requisitado, mas com o objetivo em mente, o feiticeiro invoca alguma entidade para tratar do desejo do consulente, o desejo é expressado e a entidade dá “o preço” para a realização do “serviço”. Esse “preço” é, na maioria das vezes, algo ligado a fontes de prazer material que agrada a entidade, mas, como tudo é energia, não devemos perder de foco que existe uma quantidade considerável de energia nessas oferendas, uma vez que os nossos desejos e intenções mais intensos geram um campo de poder formidável, campo esse que imbuído na oferenda irá agradar muito a entidade.  Então, dessa maneira é feita a coisa, espíritos negociantes realizam desejos ordinários em troca do que lhe gera energia e relembra os seus prazeres de outrora...
Passando para a Necromancia Voodoo, que é mais antiga, perigosa e eficiente, nos vemos com um leque de possibilidades muito maior que as oferecidas pelo Candomblé. O feiticeiro que utiliza esse tipo de Arte Oculta se torna muito mais poderoso que feiticeiros de outras ramificações da magia, uma vez que esses outorgam a si as energias dos espíritos que eles subjugam. Geralmente, o feiticeiro Voodoo trabalha com vários espíritos, sendo que alguns são subjugados para lhes outorgar suas energias e dons, mas existem também os espíritos que trabalham de maneira escrava para o feiticeiro. Nesse caso, os espíritos não são assentados como no candomblé, que é um processo amigável e de beneficio mútuo, mas eles são forçados a servir ao feiticeiro através de um ritual complexo que retira toda e qualquer possibilidade de liberdade do espírito. Quando recebem alguma ordem, esses espíritos não podem fazer outra coisa senão agir segundo o que lhe foi ordenado. A magia Voodoo é, geralmente, utilizada para o mal, uma vez que esta é extremamente eficiente nesses propósitos, pois os espíritos agem com ira por conta de sua condição escrava.
Ainda na Necromancia Voodoo, podemos observar a existência de diversos adivinhos que utilizam do poder dos mortos para visualizar o por vir. Nesse caso, os ossos dos espíritos que servem ao feiticeiro são usados como meio material para o processo oracular. Existe ainda um pequeno número de feiticeiros Voodoo que, depois de se mutilarem e perderem a visão, fazem rituais antigos e bizarros para poderem utilizar, ainda que pouco, do dom da Visão, mais conhecido e utilizado em outras culturas, como a Celta.
Existem, ainda, as adaptações das magias e dons da Necromancia que são amplamente utilizados por magos ao redor do mundo. Por se tratar de um tipo de magia extremamente eficiente, eu recomendo para todos os que buscam um nível mais intermediário e/ou avançado dentro das Artes Ocultas. Os ritos são complexos em se tratando de disciplina, concentração, segurança e bom senso, mas são relativamente simples no âmbito material. Na internet circulam diversas informações a respeito desse tipo de Arte, mas eu, particularmente, não as recomendo, pois algumas tratam de maneira geral o que deve ser tratado como específico, mas outras não passam de enrolação. A Necromancia deve ser analisada considerando as particularidades de cada pessoa e espírito em questão, a arte de negociar com um espírito é mais simples, mas depende do que queremos, de quem somos e de com quem estamos lidando, fazer algo que encontramos com a ajuda do deus do século XXI, o Google, pode causar danos que vão desde atraso em seus projetos a uma obsessão perigosa e difícil de ser desfeita. Já a Necromancia Voodoo pode ser mortal, sem prolongamento de sofrimento nem nada. A pessoa disposta a praticar esse tipo de Magia deve buscar a orientação de alguém que já possua experiência com elas e, acima de tudo, ter segurança no que faz.
Ahhh, como eu não perderia a chance, os católicos também são chegados a Necromancia, mas eles chamam de “promessa” o mesmo que o candomblecista chama de macumba. Mas não irei me deter nisso para não pisar no calo de alguém...

  

  Era mais ou menos duas horas da manhã de um sábado. Lord Vincus estava em seu quarto meditando, e os únicos sons que se ouvia era o de cantos gregorianos que eram gerados pelo seu computador, mas que pareciam sair de todas as paredes.
  O jovem magista deitou-se de barriga para cima e então algo lhe ocorreu. Estava dormindo e ao mesmo tempo consciente de tudo ao redor.
Primeiramente sentiu um grande peso sobre seu corpo que lhe esmagava o espírito, conforme lutava para levantar o peso migrava paras as partes que continuavam na cama como a perna e a cintura, quando finalmente levantou-se completamente, contemplou sua própria imagem inerte, e em um determinado momento o corpo que a pouco utilizava já não lhe interessava mais.
  >> Fechei os olhos, desejei visitar os montes onde um velho amigo habitava, e ao abrir os olhos, eu lá estava.
  O chão de pedra era cortado por fios d’água cristalinos, toda a água partia de um único local, uma caverna mais adiante, o sol brilhava no alto de um céu alaranjado ornado de duas luas, o clima era muito agradável.
Ao me aproximar da caverna ergui as mãos e evoquei a chave vincuniana sob meus pés, o símbolo brilhou forte em tons de verde, e foi então que eu disse:


“Dragão alado do ar,
Seu poder e coragem me dão animo para guerra,
Sua presença é poderosa e desaprova todos os covardes,
Eu o evoco a elevar-se como um tornado.
Dragão alado voe sobre os campos do ocidente,
Descanse sob a luz do poente,
Pois o seu poder evoco para auxílio,
O poder de um amigo de muitas eras.”
(Grimório pagão Vincuniano)

   Um grande rugido foi lançado para fora da caverna, este som embora assustador, fez meu coração expandir-se em força e vontade. Decidi entrar, lá dentro estava muito escuro, e ao chegar a um determinado ponto, dois olhos vermelhos muito brilhantes iluminaram o local. O dono desses faróis era um enorme réptil coberto por escamas verdes reluzentes, o pescoço e as costas possuíam ossos afiados brotando sem ordem, suas asas estavam abertas, o que lhe deixava ainda maior, e de sua boca lotada de dentes escapava uma fumaça acinzentada, que por vezes encobria seus bigodes de carpa.
  Coloquei-me à frente da fera, que aparentemente não demonstrava nenhum raciocínio, mas sua imagem despertava um misto de respeito e serenidade. Estando diante do dragão, desejei olhar através dos olhos dele; e assim ocorreu, ao invés de vê-lo, via a mim mesmo. Não como costumo ver as coisas, mas de alguma forma também enxergava com o olfato.
   Eu via um humanoide, muito vermelho e brilhante, possuía um cheiro metálico que me abria o apetite, rapidamente deixei a visão do dragão e voltei a mim.<<
Espigueiro: Há quanto tempo não lhe vejo, e não ouço aquela evocação sem nenhuma beleza ou harmonia.
Lord Vincus: Ora Esmeraldino, se esquece de que eu era ainda jovem quando compus aquilo?
Espigueiro: Você ainda é jovem Lord Vincus, jovem e tolo, mas dentre a maioria dos humanos, ser seu guia não é uma opção tão desagradável.
Lord Vincus: Vejo que seu bom humor continua intacto, mesmo depois de um ano sem minhas visitas.
Espigueiro: Tenho vida muito longa em relação aos seres mais jovens, um ano terrestre não é nem de longe uma grande espera, mas em relação ao período de visitas que você costumava fazer, sim, faz muito tempo.
Lord Vincus: Não vamos ficar jogando conversa fora, não sei quanto tempo conseguirei permanecer separado do meu corpo denso, então vamos ao que interessa.
Espigueiro: O que deseja Lord Vincus, pelo espírito, apreender?
Lord Vincus: Quero que me ajude a melhorar minhas habilidades e conhecimentos.
Espigueiro: Até que suas habilidades sejam consideradas dignas de serem chamadas assim, levará muito tempo e será muito trabalhoso, mas posso ajudá-lo a seguir por esta via meu jovem pupilo.
Lord Vincus: Por onde começo guardião?
Espigueiro: Você precisa aprender muito, e há condições não suficientes, mas necessárias que está ignorando. Comece revendo seus apetites, pois muito permanece em ti daquilo que constitui as bestas, e disto devia se envergonhar. Cuide também de teu intelecto, que embora tenha feito bom avanço, ainda continua rudimentar, estude a natureza, pois conhecendo o anjo alcançará o arcanjo.
  Treine Lord Vincus, treine como se uma batalha iminente estivesse à tua espera, tenha-se sempre atrasado, esteja sempre a exercitar a guerra.
  Afaste-se dos vícios que drogam o cérebro, dos excessivos vapores da carne que embebedam o espírito, e que sempre nos deixam temerosos quanto à nossa imagem perante os iguais e superiores, pois o Bem ou aquilo que se faz de boa fé, não envergonham a Alma.
  Não bastam à saúde e o intelecto em ato para a eudaemonia, mas as coisas que são vergonhosas ao espírito devem ser evitadas, aquelas coisas comum à mente humana, como os vícios do corpo e tudo aquilo que choca os espíritos dos viventes. Pois a eudaemonia é egoísta, não deve ser feita à custa de outros ou visando-os.
  Pois apreende agora meu filho, antes que seu corpo pereça e teu espírito se esqueça, pois é tendência do espírito tornar-se esquecidiço, como uma criança traumatizada, que se esquece de suas mazelas e substitui suas memórias por inúmeros símbolos e manifestações de seu passado, sejam de forma dolorosa ou não dolorosa.
  >> Minha projeção passou a oscilar, minha visão foi tornando-se turva, mas meus supra sentidos foram brevemente recuperados.<<
Espigueiro: Teu corpo o chama, ainda está intoxicado de teus maus costumes, vejo que não poderás mais ficar aqui por muito tempo.
Lord Vincus: Oh velho dragão, me ensine a ser virtuoso e cheio de sabedoria.
Espigueiro: Primeiro precisa limpar teu espírito, e para isso, lhe ensinarei o fogo esmeraldino.

  >> A enorme fera inspirou fundo e soltou seu hálito sobre mim, fui tomado por uma chama esverdeada, que fez meu coração expandir-se ao ponto de parecer explodir.
  Nesse momento, eu parecia estar ciente do que deveria fazer, levantei os braços, respirei profundamente, e quando finalmente expirei, levei do meu coração uma energia que misturava coragem, amor e determinação para a palma de minhas mãos, me senti poderoso enquanto a energia me subia pelos braços e minavam das minhas mãos derramando um líquido em chamas, de cor verde sobre todo o meu corpo, a chama descia pela minha pele e ao tocar o chão voltava a subir, senti todo o peso que me corrompia o espírito desprender-se com leveza e misturar-se com o ar.<<
  Espigueiro: Leve este exercício contigo, um exercício simples, indigno daqueles que se são grandes, mas para um jovem como tu, é de grande valia, use-o para purificar-se, para purificar tua casa e para purificar tuas ferramentas... Como prova de nossa identificação leve esta última pérola com você:
“Oh Humanos perecíveis, embriagados pelo vinho sem mistura da ignorância, cuja realidade limita-se aos olhos sensíveis, e quando pior, a fé não é posta sob a razão. Oh, corais humanos, despertai, pois o sofrimento desmedido e o não zelo pelo intelecto adoece a vossa alma. Oh, pobres sentimentalistas, 'ofensíveis' e efeminados, pobres e fracos, olhai no espelho à sombra da Magnificência, à sombra Demiúrgica, ansiosa por liberdade e respeito. Não matem o homem e a natureza por idealismo, idealizem um homem melhor de forma não destrutiva. Que verdades possuem aqueles que ainda sofrem? Que bens podem oferecer, que já não ofereceram a si mesmos? Crescei e multiplicai seus conhecimentos e horizontes, pois não só de pão vive o homem, já que este não é só corpo, é intelecto também, e esta parte queima de desejo pelo conhecimento."
>> Após calar-se, o dragão expeliu uma onda de fogo sobre mim, fui impulsionado rapidamente de volta, e quando voltei, foi como tivesse saltado de uma grande altura que ao bater no chão, fez meu corpo parecer subir alguns centímetros.
Eu estava mais leve, momentaneamente me sentia mais leve, como se a chama do dragão tivesse clareado e aquecido meu espírito.<<



"praebere sitientibus"
Lord Vincus
2012 

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