Saudações, meus queridos. Sou o novo membro dA Casa (Ocultismo) e espero contribuir de forma louvável para o crescimento tanto de vocês como o desse admirável recinto. Começarei apresentando um texto, e seu adendo. O texto foi formulado dentro de uma proposta de reformulação de ótica e abordagem para o ocultismo e complementa a ideia iniciada por Vinícius neste mesmo blog, então ele tem um critério um tanto epistemológico (espero que esteja usando o termo de forma correta). O adendo serve como um sumário explicando os termos utilizados. Pois bem, aqui está:


Uma paisagem com um campo verde florido e um riacho estão ilustrados em um quadro.

1. Ao observar isso podemos atestar que de fato estamos observando um quadro e que nesse quadro está ilustrado uma paisagem com um campo verde florido e um riacho.
1.1 Se você considera essa imagem bela, então você a verá assim, mas isso não muda o que a imagem é tampouco se eu disser que a imagem é feia. Em verdade a imagem não mudará. Ela persistirá sendo àquilo que ela é: uma imagem de uma paisagem com um campo verde florido e um riacho.
1.1.1 Beleza é um valor relativo, sujeito à crença pessoal de cada um. Ainda que haja um consenso majoritário que algo é belo, isso, ainda assim, persistirá como sendo uma crença. Uma crença comunal, mas ainda uma crença.
1.1.2 Se algo for verdadeiramente belo então não haverá questionamento sobre esta coisa ser bela ou não. Se assim for então teríamos também um padrão para classificar, factualmente, o que é, ou não, belo e isso, de fato, não existe.
1.2 Assim como diversos outros adjetivos de valores relativos, frutos de opiniões, crenças e óticas individuais, a beleza, ou não, de algo nada muda a coisa em si.

2 Adjetivos não dão um caráter novo a coisa em si, nem a alteram. Se eles oferecem alguma espécie de informação, esta seria acerca da opinião e ótica da pessoa que comunicou isso.
2.1 Se digo que tal quadro é feio, isso não mudará o que o quadro é, nem sua ilustração, nem nada. Mas lhe informará o que eu creio sobre o dito quadro.

3 Constatações, no entanto, dizem respeito à fatos acerca de coisas, tal como o quadro e sua imagem.
3.1 Se constato que o quadro tem uma ilustração de uma paisagem com um campo verde florido e um riacho então é isso que eu percebo. Esta informação constitui aquilo que eu percebo, de forma que se ela se alterasse, aquilo que percebo se alteraria.
3.2 Constatações se baseiam em informações verídicas e, por óbvia consequência, factuais. Elas independem do indivíduo e se mantém por si só.

4 Constatações de fatos e crenças de valores relativos se confundem pra construir aquilo que nós percebemos.
4.1 Se constato que tal obra é de uma escola artística X então mesmo que a obra em si não mude, seu entendimento sobre a obra mudará, lhe dando mais profundidade no entendimento da mesma.

5 Opiniões/crenças expressam qualidades, informações, por outro lado, expressam fatos. Assim sendo, constatações lhe passam informações. São informativas.

6 Crenças se manifestam no indivíduo.
6.1 No caso da beleza, ou feiura, do quadro: a beleza não está no quadro ou na imagem e sim na consideração de quem o observa. Ele é, de fato, desprovido de tais qualidades pois é somente um quadro ilustrando um campo verde florido e um riacho. Se ele é percebido, ou não, como sendo belo vai do indivíduo que atribui essa qualidade ao mesmo, tal como o ditado que diz "beleza está nos olhos de quem vê".

7 Verdades são fatos constatados. Eles independem do indivíduo, de ótica ou opinião, para existirem, ao contrário das crenças.
7.1 Verdades e fatos ocorrem fora do indivíduo e tem um aspecto universal. Se algo pende ao particular ou à ótica ele não será um fato, mas sim uma opinião ou crença.
7.2 Fatos e verdades podem tanto nos comunicar uma observação externa (que lida com a relação de um elemento com o outro, como em: "ele acha o quadro bonito") como pode lidar a observação de características internas (a dita descrição do quadro).

8 Verdades (constatações factuais) e crenças muitas vezes se confundem por conta de enunciados mal elaborados.
8.1 Em um caso onde um indivíduo diz "a minha verdade é que azul é a melhor cor" ele estará cometendo uma série de equívocos.
8.1.1 Primeiro pois para azul ser "a melhor cor" então deveria haver algum critério definido e racionalmente observável que ateste que para esse fim predeterminado azul é, de fato, a cor ótima para servir a esse fim. Assim notamos que ele tinha a pretensão comunicar sua predileção pela cor mas foi infeliz na formulação do enunciado.
8.1.2 Em seguida temos que ele anuncia que esta é a "verdade dele". Ora, verdades são constatações de fatos e, portanto, independem de uma ótica particular para existirem sendo o que são. Por definição isso impede que uma verdade seja pertencente a um indivíduo, se ela existir, de fato, então ela será comum para todos que sejam capazes de analisa-la.
8.2 No entanto temos que um enunciado que comunica uma crença, como "eu prefiro a cor azul" manifesta não só a crença como também uma verdade. Isso gera muitas confusões, no entanto vou explicar.
8.2.1 A crença se manifesta no indivíduo -a predileção de determinado sujeito pela cor azul- e a verdade se manifesta no fato de tal sujeito ter esta crença, de forma que temos dois elementos distintos e separado em um só enunciado: uma crença expressa desprovida de verdade e uma verdade desprovida de crença.

Saber diferenciar um e outro é fundamental para o ocultista em sua jornada.

Não podemos viver sem nossas crenças e opiniões. Elas fundamentam quem somos e no que acreditamos. O que gostamos ou deixamos de gostar. Ela estrutura nossa identidade, nossa personalidade. Nos proporciona prazer e alegria.

Perder isso não é interessante para o indivíduo, a não ser que ele creia que seja e, se assim for,ele também estará agindo de acordo com isto que digo.

A constatação de fatos é o que nos traz a percepção da verdade.

Informações estruturam a forma como vemos o mundo, opiniões dizem o que achamos disso.

Saber moderar um e o outro. Saber equilibrar um e o outro. Saber separar um e o outro.

Nenhum melhor. Nenhum pior. Ambos em seu devido lugar. Em sua devida proporção. Em harmonia.

Adendo

Valores relativos tem seu significado alterado de acordo com o contexto.

Valores absolutos não tem seu significado alterado de acordo com o contexto.

A palavra "informação" não tem seu valor e emprego alterado de acordo com o contexto. O significado dessa palavra é "absoluto". No entanto, o que ela comunica -a informação que vai ser passada- muda de acordo com o contexto. Ainda assim isso não altera o significado de "informação", de forma que ela é, ainda assim, uma palavra com significado de valor absoluto.

Palavras como "bem" ou "belo", no entanto, tem seu significado e emprego constantemente alterados pelo contexto. O significado das palavras, o que elas representam e significam, o que elas "são", o que torna elas "elas", muda de acordo com o contexto. Dessa forma lhe digo que elas são palavras com valor relativo.

Verdades são constatações de fatos. Constatar um fato significa observa-lo de forma direta e consciente. Um fato é um acontecimento, ou uma soma de acontecimentos, observável em uma dinâmica tempo-espacial que se arranja de forma a estruturar as coisas tal qual são. Observar um fato implica estudar as estruturas e os acontecimentos em busca de um cerne lógico, natural e impessoal que é próprio aos fatos.

Crenças e opiniões são observações, pensamentos e ideologias de valores relativos tomados por um indivíduo. Elas não são factuais e portanto não carregam valor de verdade. No entanto indivíduos adotam essas crenças e opiniões para formatarem sua ótica acerca do mundo que lhes cerca manifestando por meio destas sua personalidade, seus gostos e desgostos.

Quando falo da "natureza" não me refiro à natureza observável, e muitas vezes romantizada, e sim àquilo de que é feita a realidade. Me refiro àquilo que pode ser chamado de "matéria" ou simplesmente de "existência", ambas em seu âmbito familiar e próprio.

Para produzirmos sentido nas nossas observações da Natureza do Universo precisamos nos utilizar de sistemas de linguagens. Esses sistemas de linguagens, com seus signos, carregam dentro de si o valor de fato por sua existência e, conforme oferecem sentido para outras observações, geram teias de significados que estruturam uma cadeia de sentidos que é responsável por nos dar o entendimento acerca do objeto tratado.

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