O texto a seguir é da minha "Opera Magna" um livro que só pretendo publicar daqui a alguns anos(se publicar, pois se trata de um livro muito pessoal), trago aqui com certo receio, pois é uma obra ainda em construção. Trago para nível de reflexão textual aqui no grupo. O texto é simples e não segue os rigores acadêmicos, mas busca na medida do possível a clareza e a preocupação com a aprendizagem do leitor.




  Todo símbolo é, sem muito medo de equivocar-me, uma roupagem pela qual uma ou mais ideias ou objetos se expressam. Essas ideias cuja a fonte pode possuir ou não uma forma específica serão por mim chamadas de espírito. O espírito é então aquilo que é imanifesto em si mesmo, porém é manifesto quando apropria-se de um agente plástico. Um exemplo claro está sendo dado continuamente ao meu leitor por meio dessas palavras que utilizo para me expressar, essas palavras que não são a coisa mesma evocam as coisas para as quais servem de vestimenta.
  Quando falo de 'Justiça', por exemplo, devo atentar que aquilo que chamamos por esse nome não possui forma e não pode de modo algum ser comunicado, a menos que, este espírito seja revestido de um ou mais corpos para que seu sentido possa ser conhecido. O espírito da justiça é comunicado por meio de sua roupagem coma a grafia ou som de seu nome, desse modo, sempre que ouvirmos a palavra ou tomarmos alguma de suas manifestações visuais acabaremos por evocar total ou parcialmente os espíritos que nesses símbolos estão ocultos.
  Para um espíritos ser devidamente evocado, Tê-lo selado em uma ou mais símbolos não é suficiente, é necessário que ele esteja devidamente inserido em um sistema de símbolos concatenados, com efeito, se tomarmos por exemplo a palavra 'cadeira' sem tê-la inserido em uma rede de símbolos ela não terá nenhum significado, se por outro lado esta mesma palavra estiver dentro de um sistema ela passa a informar alguma coisa, afinal só posso evocar um espírito se já tiver dominado os espíritos que a ele são submissos, igualmente, só posso evocar e fazer uso do espírito da cadeira quando possuir o controle dos espíritos mais simples que a ela seguem, tal como o espírito de encosto, base e acento.
  Ainda nesse sentido, se eu quiser evocar o espírito do Sol quando seu objeto não estiver pairando sobre o firmamento, devo antes evocas os espíritos que lhe são subordinados, tal como os espíritos da luz e do calor ou de qualquer coisa sob o domínio do Sol ou que lhe dê significado. Desse modo quando percebemos que todos os espíritos se concatenam, percebemos que quanto maior o número de espíritos que dominamos, maior será a facilidade de dominar espíritos mais complexos, o que se deduz que o ocultista deve conhecer os espíritos mais simples para assim poder alcançar seus respectivos governantes e sobre eles exercer domínio, esse é um dos pilares do conhecimento, com efeito basta dominar o exercito para subjugar o comandante.
  Desse modo no que diz respeito aos espíritos que ainda não conseguimos dominar, basta que encontremos seus respectivos servos e tenhamos posse de seus selos para então através deles tomarmos o seu governante, vale ressaltar que muitos espíritos possuem mais de um senhor, e muitos senhores são servos de espíritos muito maiores. Como exemplo de um espírito com mais de um senhor temos o espírito da quentura, que serve ao Sol, ao fogo ou ao abraço. Como exemplo de espírito que é servo e senhor temos o Sol que além de dominar os espíritos por mim enunciados, ele é dominado por espíritos maiores como por exemplo o espírito de Estrela. Todos que ignoram essa regra de nossa linguagem nunca foram capazes de dominar grandes espíritos.
  Para aqueles que conseguiram a proeza de não compreender o que agora expus, é suficiente meditar sobre a sexta regra de Descartes.
  
[trecho removido por não acrescentar ao tema, apenas uma reflexão do método exposto como modelo para alcançar um espírito último e universal]
  Apesar de tudo o que foi dito, há questões que devemos atentar, uma é que um mesmo espírito pode usar inúmeras imagens para se manifestar, por exemplo o espírito da Justiça que pode se mostrar por meio da palavra escrita, falada, por ideogramas como é o caso da balança ou até mesmo sob a casca de uma deusa ou estátua, embora todas essas roupagens sejam diferentes, são passíveis de serem tomadas por um mesmo espírito. A segunda questão é que uma mesma roupagem pode ser dividida por inúmeros espíritos, como é um caso de um mesmo símbolo tem diferentes significados, como é o caso por exemplo da cruz que pode ser habitada pelo espírito de Cristo, com os quatro elementos da física antiga, com o simples cruzar de retas dos geômetras e até mesmo com o espírito da tortura talvez tenha atormentado homens de um passado distante. Dito isso concluo que um mesmo espírito não usa apenas uma mesma vestimenta e a mesma vestimenta não é usada por apenas um espírito. Sendo assim o ocultista hábil não julgará o espírito pela sua roupa, ele mostrará-se clarividente e verá através das aparências, isso se torna fácil empregando os saberes aqui expostos, pois esses espíritos costumam andar acompanhados de seus servos e é através deles que iremos identifica-los, é como dirá os populares "me diga com quem andas e te direi quem és".
  Compreendendo isso caro leitor, rogo-lhe pelo bom senso para que não copie as ações daqueles que falam mais do que sabem, como em sua maioria fazem os que se ocupam do comércio e da glória vã, pois devemos saber que o ocultista difere do copista, desse modo quando um estranho vier lhe oferecer um símbolo e lhe pedir para que seu espírito seja desvelado, cuide para não precipitar-se, com efeito uma mesma casca nem sempre terá um mesmo espírito. Desse modo, quando um Ankh for apresentado não se apresse em apontar um determinado espírito como seu hospedeiro, primeiro questione onde tal símbolo se inseri[...], se o interlocutor não for capaz de lhe informar isso e lhe passar somente o símbolo solitário deve-se então dizer-lhe a verdade, ou seja, que o símbolo é uma casca oca(um não-símbolo), ou então instrua-o para que possa por conta própria encontrar o espírito que ali repousa, com efeito, embora o símbolo seja o mesmo, o espírito em seu interior não será idêntico quando for observado dentro da mitologia egípcia e de uma linha new-age. Cabe então o ocultista investigar o inaparente(espírito) e torna-lo aparente, aqueles que se ocupam somente da vestimenta sem ocupar-se devidamente do espírito não são ocultistas.
  Devemos falar ainda de espíritos irmãos que podem vestir-se dos mesmos símbolos, partilharem entre si inúmeros servidores e terem ainda o mesmo nome(que é também um símbolo), não atoa que temos vários espíritos diferentes sendo tomados pelos desatentos como iguais. Podemos citar por exemplo os espíritos que atendem pelo nome de justiça, com efeito não há um único espírito para a justiça que seja universalmente usual, há inúmeras noções da mesma, partilhando os mesmos servidores, mas diferenciando-se na medida que os servidores divergem.
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