Nas meditações buscarei adereçar certas questões que, por uma razão ou outra, não encaixam em outra proposta de texto, ou que não precisem de um texto inteiro para serem abordadas. As ideias poderão ser expostas de forma solta ou podem, no final, se amarrar em alguma temática específica. Espero que gostem.


Wittgenstein atesta que não há uma ética factual e absoluta [1], e se há, esta não pode ser conhecida ou dita. Assim sendo podemos estabelecer que não há ética verdadeira [2]. Ética e moral compartilham o mesmo cerne. Ética implica conduta e carrega em si os valores referentes a como esta conduta se dá. Moralidade é referente a estes valores que estão ligados à conduta. Estes são valores como: noções de bem e mal, virtudes e etc. Digo, então, que, em verdade, não há moral. Moral portanto se torna fruto de crença ou opinião. Não por menos os diferentes sistemas de crença e as religiões carregam consigo noções éticas e morais diferentes. A implicação disso é que a moral, e a ética, são aspectos pessoais, e não universais, e devem ser entendidas da forma que são. No mais isso não invalida estas coisas, moral e ética, apenas as bota dentro da sua devida categoria, dentro do conjunto de crenças do indivíduo.

A "lei do retorno", kharma ou como preferir chamar, pode ser compreendida à um nível místico e/ou metafísico, mas também pode ser compreendida dentro de um patamar mundano consideravelmente simples. Temos um caso onde o indivíduo realiza uma ação prejudicial para muitos outros. Ao realizar esta ação ele estará fomentando o desafeto dos indivíduos prejudicados, que podem, mais tarde, tentar prejudicá-lo de volta. Se essa ação for ilegal o sistema jurídico pode intervir para retificar o ocorrido. Em um outro caso temos que um indivíduo toma uma ação que alavanca positivamente muitos outros. Ele, ao contrário do sujeito passado, obterá o afeto destes e em uma situação de crise ele poderá se beneficiar da ajuda dos mesmos. Esses são só exemplos rasos de observação de causa e efeito de indivíduos dentro de uma esfera social. Se entramos em méritos psicológicos poderemos, quem sabe, até notar que indivíduos de uma certa índole comportamental terão atitudes mais corrosivas que outros. Estes outros podem ter uma atitude mais construtiva e florescer dentro de uma situação negativa. Acredito que a crença na "lei do retorno" seja mais uma mistificação da teia de causas e efeitos que algo "real".

Muitos indivíduos buscam uma conduta moralmente "correta" esperando, de algum ente metafísico a validação de seus atos. Isso é tolo, dentro de uma ótica factual, mas permissível para o viés de crença. Se analisarmos o que seria a ética e a moral a um nível factual elas só existem dentro de uma abordagem pragmática onde o que é ético ou moral, o correto, é, simplesmente, aquilo que é ótimo para a obtenção de determinado fim. O indivíduo observa a situação e vê a gama de possibilidades e cursos de ação que ele pode tomar para obter, com excelência, determinado resultado. Se quero encher meu copo com água busco o copo e boto água nele. Isso é um resultado ótimo. Quebrar o copo não seria ótimo. Se quero beber água acredito que beber água diretamente do jarro possa ser um resultado ótimo para o fim que busco, já que poupei energia e tempo de botar água no copo e obtive o resultado desejado, de beber a água. Moralidade e ética, a um nível factual, se resumem a isso: cursos de ação ótimos para determinado fim.

 [1] - WITTGENSTEIN, Ludwig, Conferência sobre ética, Tradução de Darlei Dall’Agnol, do original "Lecture on Ethics".
 [2] - LEMOS, Hugo, Da crença e da verdade.

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